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Postado by : Unknown sexta-feira, 30 de agosto de 2013

A Maternidade Negativa existe e existe principalmente no ideal da nossa cultura ocidental de que a mulher que se dedica á maternidade plenamente está de fato cometendo um grande erro. Erra em se dedicar exclusivamente ao bebê, em amamentar por longos períodos, erra em fazer deste momento algo sacrificial.

A autora Laura Gutman em seu livro " A Maternidade e o encontro com a própria sombra" diz que: "Ser maternal implica abnegação, tolerância, amor incondicional, entrega, doçura, paciência, compreensão, altruísmo...todas as qualidades necessárias para que as mulheres sejam capazes de criar os seus filhos sem enlouquecer".

E, diante de tantos desafios que envolvem essa maternidade, ela pode vir a ser negativa, pois é quase impossível aos olhos dessa sociedade exigente em que vivemos, que essa mulher disponha de todos esses atributos ao mesmo tempo. Antes que enlouqueça a si e a sua família, resolve-se o problema fazendo dela essa maternidade negativa: é mais fácil de ser encarada e essa mulher pode desenvolver todas as outras milhares de atribuições que esta mesma sociedade a impõe.

Mas a sociedade (digo sociedade: família, trabalho, relações sociais) impõem a esta mesma mulher um número semelhante de outros atributos: mulher sexy, magra, amante, profissional, esposa, estudante, dona de casa, mãe responsável pelos seus filhos, filha que cuida dos pais na velhice, amiga, entre outros.

Cabe a mulher a função de gerar uma criança e essa mulher que lhe é exigida tantos atributos, é bombardeada se não os cumpre plenamente. Não existe culto ao corpo negativo, não existe esposa negativa, não existe mulher no mercado de trabalho negativa, não existe dona de casa (que cuida da casa em si) negativa, mas existe mulher maternal negativa. Por quê?

Porque a mulher, ao longo dos anos de sua trajetória feminista, internalizou o conceito de sua própria figura feminina idealizada: aquela figura que sempre deve ser dócil, amável e principalmente tolerante. Confundimos o conceito de ser mãe e mulher ao mesmo tempo, em tudo o que fazemos. Se profissionais, a nossa atuação geralmente é em profissões que reforçam o nosso lado maternal e geralmente mal remuneradas; e aceitamos isso porque nos deixamos levar muitas vezes por estes sentimentos altruístas da maternidade. Se somos profissionais sérias, que disputamos cargos masculinos, radicalizamos, deixando o nosso lado materno de lado e nos incorporamos desta racionalidade masculina.

E, deixamos a maternidade a cargo de outras pessoas...

Creio que o único caminho para a transformação da Maternidade Negativa em Positiva, é o nível de maturidade que nós mulheres desenvolveremos a partir da prática constante de sermos responsáveis por nossos escolhas, escolhas essas que devem ser incontestáveis pelo grau de seriedade e comprometimento que dispomos da nossa insubstituível capacidade de gerar, nutrir e cuidar dos nossos filhos. Enquanto deixarmos transparecer fragilidade, insegurança e dúvida, contribuiremos para a perpetuação da maternidade negativa.

Ainda, é necessário um esforço genuíno no que diz respeito ao desprendimento de valores culturais fortemente arraigados em nosso inconsciente cultural dessa maternidade. O momento da maternidade na vida de uma mulher é o momento de libertação do ser menina, para o ser mulher de fato. A maternidade positiva é o momento de confronto de nossa menina mulher interior com a mulher real, com um bebê real em seus braços. Aquela menina que passou a vida toda se preparando para este momento: sendo mãe de suas bonecas, sendo educada para ser tornar uma mãe de fato.

A sociedade impõe tantos atributos porque essa mãe real precisa florescer: ela é garantia de crianças saudáveis e bem cuidadas. Mas muitas vezes a sociedade se esquece que ela também foi essa menina um dia... Só poderemos abdicar de uma maternidade negativa quando a maternidade positiva for internalizada e plenamente vivenciada por nós.

Por favor, nos dêem tempo para sermos nós mesmas com os nossos filhos? Eles precisam de tempo, cuidado, dedicação e nós mães do mesmo tempo, cuidado e dedicação, pois nesse momento mãe e bebê são uma coisa só. Totalmente dependentes e interdependentes um do outro.

Que possamos exercitar a nossa maternidade positiva até o pleno convencimento. Nada menos do que isso.


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